segunda-feira, 10 de junho de 2013

Ao Remetente

Bom dia!
Ela dizia, nas manhãs daquele verão escaldante
Um sorriso vago, um olhar fugidio
Bom dia..., lacônico, ele respondia
E seguia...
E dia após dia
Ela dizia, sorria, insistia
Enquanto ele passava
Nem sempre lhe falava
Tão alheio àquela estranha criatura
Meio envolta em loucura
E devaneios de verão
Bom dia, ela dizia e sorria
Dia após dia
Pensando em como seria
Perguntar, Como você está?
Olhava e se indagava
Em que ele pensará?
Por onde ele andará?
Em silêncio fitando as folhas
Que caiam mansamente no outono que já batia à porta
Bom dia, ele respondia
E seu caminho seguia...
Ele não via
O brilho no olhar
A ânsia de falar
A angústia de calar
Ele não via...
Não via a semente de amar
A possibilidade de desejar
Aquele eterno esperar
Que o sorriso fosse notado
Que o sonho amassado num canto da alma
Apenas ali, esperando para brotar
Mas no outono, nada cresce...
Menina, esquece!
Veio o inverno
E o frio se fez presente
Castigando a semente
Do amar, do querer, do sonhar
A terra da alma foi gelando
A tristeza estendendo seu manto
Só lhe restou chorar
Chorar o que sentia
E o que podia ter sentido
O que podia ter nascido
Da semente daquele amar...
Chorar a esperança fugidia
Chorar o tempo perdido
Chorar o amor não vivido
A morte do acreditar...
Juntou seus sonhos, seus cacos, seus pedaços
A tristeza infinita de todos os abraços
Que ficaram pendentes
Dos beijos ausentes
Do riso não compartilhado
Do ser não bastado
Do esperar tão cansado...
Se foi.
E ele até hoje procura
O endereço daquele amor
Que não viu
Que não sentiu
Que não viveu
E de cuja existência somente se deu conta
Quando o bom dia se foi
Com novo endereço desconhecido.

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